Escrever é cortar, disse um escritor que sabia do que falava. Isso assusta principiantes, a quem o difícil é produzir algo. Sofrem do problema de Kafka: “Quando finalmente consigo colocar uma palavra no papel, não tenho senão esta, e todo o esforço recomeça”. Esse problema, contudo, só afeta metade da população. A outra metade é uma cachoeira ininterrupta de texto que se derrama sobre a página como uma comporta de Itaipu despejando um bilhão de litros de tinta por minuto e sem ter a menor noção de como chegar a um ponto final ou, quando o consegue, sem saber como voltar e reduzir essa extensão inesgotável de texto para atender aos telefonemas impacientes do editor que lhe faz a pior das ameaças: “Se não cortar, eu mesmo corto”.
Aliás, poderíamos reescrever assim este último trecho:
“A outra metade é uma comporta de Itaipu despejando um bilhão de litros de tinta por minuto, incapaz de fazer ponto final ou de cortar algo, mesmo quando o editor ameaça: – Se não cortar, eu mesmo corto”.
Caímos de 78 palavras para 38, e o essencial foi dito.
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