O processo de escrever é feito de erros – a maioria essenciais – de coragem e preguiça, desespero e esperança, de vegetativa atenção, de sentimento constante (não pensamento) que não conduz a nada e de repente aquilo que se pensou que era ‘nada’ era o próprio assustador contato com a tessitura de viver – e esse instante de reconhecimento (igual a uma revelação) precisa ser recebido com a maior inocência, com a inocência de que se é feito. O processo de escrever é difícil? Mas é como chamar de difícil o modo extremamente e caprichoso e natural como uma flor é feita. (‘Mamãe’, disse-me o menino – ‘o mar está lindo, verde com azul, e com ondas! Está todo anaturezado! Todo sem ninguém ter feito ele!’) A impaciência enorme ao trabalhar (ficar de pé junto da planta para vê-la crescer e não se vê nada) não é em relação à coisa propriamente dita, mas à paciência monstruosa que se tem (a planta cresce de noite). Como se dissesse: ‘não suporto um minuto mais ser tão paciente’, ‘a paciência do relojoeiro me enerva’ etc. O que impacienta mais é a pesada paciência vegetativa, boi servindo ao arado.
(in Jornal do Brasil, 8 de maio de 1999)Como escrever um bom conto: Poe, Cortázar e Borges
Um bom conto é breve, mas não pequeno.
É feito de rigor, intensidade e pensamento.
E nasce quando o escritor, consciente da tradição, ousa condensar um universo inteiro numa página. Dicas de Poe, Cortázar e Borges.




